Biografia

No dia 10 de junho de 1931, feriado nacional, nasceu no pequeno lugar da Maragoça, freguesia de Valpedre, aldeia do Concelho de Penafiel, a segunda filha do senhor Rocha e da D. Albertina, casal bem conhecido e respeitado em toda a aldeia por serem os donos da “venda nova”, a loja local. A essa filha deram o nome de Maria Albina, que desde cedo ficou conhecida como Bininha, nome que, carinhosamente, a acompanhou até hoje. A seguir à Bininha tiveram mais sete rebentos, tendo dois deles falecido ainda em bebé.

A Bininha estudou até à terceira classe (atual terceiro ano do primeiro ciclo), pois nessa altura era esta a escolaridade obrigatória. Depois de sair da escola, quis aprender a arte da costura e foi para uma “mestra”, juntamente com outras raparigas da mesma idade. A costura foi a atividade profissional que abraçou com gosto ao longo de toda a vida.

Durante a infância e a juventude integrou diversos grupos paroquiais da aldeia. Frequentou a catequese e foi catequista, fez parte das comissões que organizavam o leilão anual, sempre acompanhado por desfiles sumptuosos e números de dança, do grupo coral e também do grupo cénico da terra. Os espetáculos que este grupo organizava eram grandes acontecimentos na aldeia e nas freguesias vizinhas, aguardados com grande ansiedade.

Por volta dos 30 anos mudou-se para o Porto, onde trabalhou como costureira para algumas famílias. Conheceu nessa cidade um jovem amigo de um dos seus irmãos, originário da aldeia de Parada de Todeia, Paredes, que também estava a trabalhar no Porto e por quem se enamorou. O ano de 1964 foi o escolhido para a Bininha e o Antero dizerem o sim. O casamento realizou-se na igreja de Valpedre, terra da noiva, como manda a tradição.

Construíram o lar na outra margem do Douro, na freguesia de Mafamude, Vila Nova de Gaia. Aí criou os três filhos enquanto continuava a sua atividade de costureira, trabalhando para as suas “freguesas”, maioritariamente do bairro que passou a chamar de seu e onde granjeou o respeito e admiração de todos os moradores.

Desde que se mudou para o Porto que uma saudade a roía por dentro. A falta da atividade cultural a que estava habituada na sua aldeia deixava-a ansiosa e não descansou até desafiar os catequistas dos seus filhos a criar um grupo de danças e cantares, com as crianças da catequese. O desafio foi aceite e, em meados da década de 70 do século passado, começou a aventura que deu origem ao Grupo Folclórico de Danças e Cantares de Mafamude. Desde essa altura que a história da Bininha se funde com a história do grupo.

Inicialmente, as crianças ensaiavam nas instalações paroquiais da Rua de João de Deus. Curiosamente, em outubro de 2013 a Bininha mudou-se para um apartamento que se situa exatamente no local onde estes ensaios ocorreram. O destino tem destas coisas.

Os primeiros números apresentados por este grupo foram um coro, que cantava as músicas do disco “Fungágá da Bicharada”, do José Barata Moura, e um grupo de danças tradicionais, que dançava coreografias inventadas pela Bininha ao ritmo de um disco de vinil. As roupas foram todas confecionadas, claro está, por ela, ou não fosse uma briosa costureira.

Mais tarde o grupo mudou-se para outras instalações da paróquia, uma garagem situada na rua Dr. Ferreira Macedo equipada com um palco. Às danças e cantares foram-se juntando momentos de declamação e teatro e, aos poucos, o disco de vinil foi substituído por uma tocata ao vivo. Os espetáculos neste espaço eram um sucesso, à semelhança do que acontecia em Valpedre, sua aldeia natal.

Com o crescimento do grupo, os seus responsáveis começaram a pensar em tornar a atividade folclórica mais séria. Após um trabalho árduo de pesquisa, incluíram no grupo danças, cantares e trajes típicos da região e, em 1982, formalizaram a criação do Grupo Folclórico de Danças e Cantares de Mafamude.

Apesar deste fantástico crescimento do grupo, A Bininha ainda não estava satisfeita. O espaço onde ensaiavam era partilhado com outros grupos paroquiais e começava a ser pequeno para a dimensão que o grupo estava a alcançar. Era necessário adquirir uma sede, mas não foi fácil encontrar quem perfilhasse esta ideia “louca”. O grupo não tinha dinheiro e os apoios das entidades locais eram escassos. E onde se iria encontrar um espaço condigno e em conta no centro de Gaia?

Apesar de tantos constrangimentos, a Bininha não desistiu e soube juntar as pessoas certas para que essa tarefa hercúlea avançasse. Contra todas as probabilidades, em 2000 foi inaugurada a sede, com a pompa que o momento exigia.

Como reconhecimento por ter dedicado quase metade da sua vida à cultura popular em Mafamude, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso atribuíram-lhe a Medalha de Mérito Cultural, em 2012 e em 2016, respetivamente.

Hoje continua a ser a “mãe” de todos os membros e ex-membros do Grupo, a quem carinhosamente chama de filhos e filhas.